Tobin

Conceição Branco
jornalista

Mister Robin, Tobin e Queirós 16-07-2008 23:36:00
Pretende esta crónica demonstrar que os mister Robin e Tobin são tão importantes para a nossa felicidade caseira quanto o mister Queirós, futuro treinador da equipa de futebol da selecção das quinas.
Situemos mister Robin: Herói intemporal, conhecido em língua lusófona por Robin dos Bosques, diz a lenda que foi um ladrão que roubava aos ricos para dar aos pobres.Saga que resistirá enquanto houver uns e outros e fica mais forte sempre que o cinto aperta.
Já mister Tobin, economista americano que ganhou o Nobel em 1981, aí pelos anos 70, quando o Mundo acordou estremunhado com a primeira crise petrolífera, propôs a cobrança de uma taxa de 1% a incidir sobre os mercados financeiros para “reduzir a vulnerabilidade das economias aos movimentos especulativos de capitais, originada pelo fim do sistema de câmbios fixos de Bretton Woods”.
Pelas contas da altura, o imposto arrecadado daria para acabar com a fome no mundo, mas sobretudo e principalmente, seria uma machadada mortal na especulação, e porque não dizê-lo na corrupção.
Nada de mais, a taxa Tobin. Em geral, é aplicar o mesmo princípio que o cidadão segue na declaração do IRS: Paga de acordo com o que ganha, sem recurso a sociedades em paraísos fiscais, investimentos de risco nas bolsas, globalização dos capitais e outras especulações.
Se a proposta da taxa Tobin tivesse passado, o BCP não estaria nos apuros em que está, quanto a alegadas fraudes em offshores, nem o cartel das gasolineiras poderia ser o que era.
Afinal, a actual crise mundial começou no dia em que um pobre agricultor do Oeste profundo dos Estados Unidos não pagou a hipoteca da casa e o seu banco descobriu que lhe dera crédito sem garantias.
Alguns agricultores depois, as dívidas são uma bola de neve, os bancos abrem falência e, tal rastilho de pólvora, o mundo virtual da alta finança entra em colapso.
Acabará, a dita crise, se e quando rebentar de vez a gigantesca “bolha financeira” - ou será fraude especulativa? - em que o dinheiro é um produto em si e não o valor da produção real e do trabalho.
Houvesse Taxa Tobin em 1972 e adeus crise da “bolha” pois não existiria a dita cuja, ou sequer este fosso, a cada dia mais profundo, entre os que ganham milhões antes do pequeno-almoço ( investem na bolsa do Japão e aproveitam a diferença da hora) e a gente que não tem nada a perder, nem sequer a vida, que esta não está cotada em bolsa e portanto não é um bem avaliável .
Avançando para o séc XXI, alguns ricos estariam, provavelmente, menos ricos, o mister Amorim ficava fora da lista multimilionária da Forbes, a gasolina não carecia de aumentar 12% em seis meses, e os alimentos outro tanto ou mais.
Sem dúvida, muitos pobres não estariam tão desesperadamente pobres, aqui e em muitos outros lugares do mundo.
Finalmente, o primeiro-ministro José Sócrates não precisaria de propor a "taxa Robin dos Bosques" sobre um quarto dos ganhos gananciosos das petroleiras, para acalmar a indignação social.
Reconheça-se: há, da parte de José Sócrates, a intenção de, minimamente, corrigir este estado de coisas profundamente injusto.
Mas o problema é não haver força política para um país pequeno inverter este monstro global. Assim, fica a sensação de nós e o mundo termos recuado até 600 anos atrás, quando Robin Hood, o Rei Artur e os 12 Cavaleiros da Távola Redonda, queriam um mundo diferente, mais justo, para acabar com uma nobreza improdutiva e arrogante, que vivia à custa dos servos da gleba. Muito espantado ficaria mister Robin, o ladrãozeco, que distribuía o roubo dos castelos pelas choupanas dos camponeses e depois se refugiava nos Bosques de Nottingham, ao ver o seu nome a ser usado, em 2008, numa taxa fiscal lusitana.
Mister Tobin, esse, diz que a sua taxa “se afundou como um calhau”.
Mister Queirós há-de um dia resgatar-nos da depressão. Olé, Olé, Olé.


in http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/editorial_ver.asp?opiniao=478

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