Jardins e Espaços Verdes

Artigo para o jornal “O Figueirense”, edição 30.01.2009

Espaços Verdes Municipais: práticas insustentáveis (1)
Surgiram nos últimos 20 anos nas freguesias urbanas muitos espaços verdes de baixa qualidade de concepção, áreas diminutas, dispersas e de difícil manutenção (especialmente comuns as situações decorrentes dos espaços verdes provindo de cedências das operações de loteamentos urbanos).
Assistimos a uma lógica do “espaço sobrante” entre as vias, a implantação do edificado, os passeios e os estacionamentos. Observam-se nas novas urbanizações espaços verdes com formas estranhas e que a maioria das vezes não permitem o cumprimento de qualquer função ecológica, social ou estética. Servem estes interstícios apenas como WC canino e fonte de uma despesa sem qualquer benefício para os munícipes.
Refira-se a propósito de despesas que a gestão municipal dos espaços verdes foi parcialmente privatizada há cerca de uma década. Os custos de tal opção política agravam-se ano após ano, tendo a Câmara Municipal da Figueira da Foz (CMFF) pago 515.000 euros a empresas exteriores em 2007 . Soma-se a esta elevada verba o pagamento aos jardineiros da CMFF, conservação e aquisição de máquinas, e as transferências programadas (101.500 euros) para as Juntas de Freguesia com o propósito de tratar os respectivos espaços verdes. Por último, dever-se-á adicionar as verbas pagas à empresa privada Águas da Figueira relacionadas com o consumo de água. Neste âmbito surgem diversas questões pertinentes na avaliação do tipo de gestão actualmente preconizado pelo Presidente Duarte Silva e o seu Executivo PSD.
Em primeiro lugar, os espaços verdes concebidos nos últimos anos baseiam-se em modelos de elevado consumo de água (relvados extensos e pouco adaptados ao nosso clima) e sem preocupações de desempenho energético-ambiental. Não existe um vector estratégico ao qual possamos chamar Plano Verde Municipal, onde os jardins e espaços verdes obedeçam a princípios de sustentabilidade “cradle-to-grave” considerando todo o seu ciclo de vida e impacte ambiental.
Estamos em crise, sente-se, a CMFF tem uma dívida aproximada de 40 milhões de euros (não incluindo as empresas municipais FGT e DOMUS), há que racionalizar as despesas. O que faz a CMFF então neste sentido? O pagamento da água potável que serve a rega dos espaços verdes é da responsabilidade da CMFF e não da empresa de jardinagem contratualizada. Ou seja, por cada metro quadrado a CMFF obriga a empresa a consumir um mínimo de 7 litros (Caderno de Encargos votado em 19.01.2009), sem contudo estabelecer um máximo nem explicar tecnicamente este valor. Isto é, a empresa gasta muita água (todos nós vemos frequentemente os passeios, os caminhos, as ruas cheias de água durante e após a rega, além das regas “cegas” mesmo quando chove o sistema dispara e literalmente encharca os solos...), esbanjando assim um recurso precioso e caro, porque não o paga nem se vislumbra que haja fiscalização eficaz por parte da CMFF. Muito menos enveredou a CMFF pelo investimento em projectos de emprego de tecnologia avançada, do tipo GOTAR, já adaptado em Lisboa e que permite poupar mais de 50% da água para rega.
Estima-se que o consumo de água para um espaço com 1.000 m2 seja igual a 1.400.000 litros por ano o que se traduz numa despesa de aproximadamente 525 euros. Aplicando este cálculo à Av. do Brasil (áreas verdes da ciclovia e separador central) obtém-se uma despesa mínima (sem desperdícios) de 6.500 euros somente em água potável para a rega exigível pela CMFF. O cenário fica incompleto porquanto se desconhece, apesar dos pedidos de informação e requerimentos atempados, qual o consumo de água global; o número de metros quadrados de espaços verdes que a CMFF tem sobre a sua alçada; o custo unitário; o desempenho dos serviços camarários versus. contratualização exterior...etc. Faltam elementos essenciais a quem deseja tomar decisões com o mínimo de acerto.
Outros municípios nacionais, mais avisados e rigorosos na gestão orçamental e dos recursos naturais, colocam o ónus do pagamento da água para rega nas empresas prestadoras de serviços, racionalizando desta forma o seu uso e evitando desperdícios.
Durante a discussão deste ponto em Reunião de Câmara, os Vereadores do PS propuseram que o Caderno de Encargos fosse alterado, nomeadamente quanto a quem paga a água. A maioria PSD rejeitou esta hipótese optando inexplicavelmente pela manutenção de encargos desnecessários. Saímos todos prejudicados com este género de desperdícios e laxismo na gestão dos recursos naturais.
As propostas para uma manutenção equilibrada dos inestimáveis espaços verdes surgirá num próximo artigo.

(1) Jorge Cancela, Arq. Paisagísta in “INSTRUMENTOS PARA O PLANEAMENTO SUSTENTAVEL DOS ESPAÇOS VERDES URBANOS”.

(2)Consultar o Relatório de Contas da CMFF ;

(3) Em 2006 a CMFF pagou 332.000 euros pela conservação e manutenção dos espaços verdes.
Base de cálculo, Caderno de Encargos elaborado pela CMFF: 7 litros por metro quadrado, rega durante 200 dias por ano, a 37,5 cêntimos por cada 1000 litros (Tarifário da empresa Águas da Figueira, 2007).

Comentários

  1. No que consta a espaços verdes,esse dinheiro é muito.De uma vez que eles só sabem cortar relva,não escarificam e resemeiam,não temos pessoal especializado.Eu que sou paisagista,vindo ad Suiça com 20 anos de experiência,não tenho muito espaço de manobra contra esses jardineiros de 4 escalão que não sabem fazer nada,essas empresas eram boas para serventes.
    Cortam a relva muito curta no verão,deve ser para a secar,não precebem nada disso.

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  2. O culpado pela degradação dos jardins compete ao arquitecto paisagista da câmara que não deve perceber nada de paisagismo.Eu sou contramestre de paisagismo tirado na Suiça onde eles tem relvados muito bons,mas para se ter bom trabalho tem que se pagar,para terem garantias do trabalho.Aqui muitos deles nem sabem cortar a relva.A escarificação,aeração,resemear.Só para terem uma noção a escarificação é feita 2 vezes por ano,onde não a fazem.A duração de um relvado bom é de 7 anos,depois começa a perder a força,se não for resemeado,começa a morrer.A relva quando é semeada tem 4 a 5 espécies misturadas,umas são mais resistentes em cada do ano,para se ter um bom relvado todo o ano.
    Não é a regar muito e por vezes em horas de muito calor que se rega,aí existe um choque térmico que a queima.A relva para o clima da Figueira devia ser há base de paturain,que é resistente ao pisoteio.
    Sou de BUARCOS,sei trabalhar e dar ideias.Se não conseguir me implantar terei que regressar à Suiça onde se trabalha em condições.
    Se a câmara precisar dos meus serviços,estarei disponível para trabalhar nos seus quadros.

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