Os políticos e discursos do 25 de Abril em Regalheiras de Lavos

As gentes de Lavos sabem receber: hospitaleiras, sorridentes, amistosas e bem humoradas. Parabéns à Presidente da Junta de Freguesia de Lavos soube estar à altura das circunstâncias e desempenhou bem o seu papel de anfitriã. Parabéns aos músicos e à boa música que se ouviu.

Imaginei que as comemorações do 25 de Abril 2009, fossem uma boa oportunidade para os políticos locais injectarem audácia e coragem nos portugueses: “vamos lutar por um país moderno, onde domine uma cultura de exigência"; "queremos uma democracia mais participada"...etc. Mas os políticos oradores em Carvalhais de Lavos optaram maioritariamente pela tónica pessimista, algum alarmismo e claro, ”a crise”.
Houve naquele dia uma enorme incapacidade de auto-crítica, quase todos preferiram empurrar as culpas para a abstracta "crise”.

Felizmente, o Coronel Góis Moço representando o Centro de Documentação do 25 de Abril cumpriu bem a missão. Destacou os ideais do 25 de Abril, as conquistas efectivas e apelou a que não se esqueça o quão miserável era o Portugal do "antigamente", pedindo confiança e ânimo aos portugueses.

A esquerda, versão PCP, insiste no maniqueísmo simplista. Os maus são os patrões, os capitalistas, os senhores do poder, os bons são todos os outros! Simples. O discurso alongou-se, incidindo ainda sobre as maternidades dos hospitais privados que não têm condições mínimas, ataques pessoais ao Dr. Correia Campos e reprovação da maternidade da Figueira. Prestou-se ainda a uma tirada anti-modernista: “a pátria a esvair-se” [sic] devido à tenebrosa União Europeia. Para quem defendia o comunismo federalista da União Soviética como paradigma libertário, há ali uma contradição que merecia ser esclarecida.

A Presidente da Junta de Lavos (PSD), pessoa afável, lamentou a crise: "a educação bateu no fundo", "a justiça não funciona, não há segurança". Mais do que enfatizar a crise, o discurso assumiu tons muito cinzentos, não se vislumbrando um arrufo que levantasse a sala e inspirasse confiança.

O Presidente da Assembleia Municipal, e empresário, pautou a sua intervenção pelo espírito das dificuldades e da crise, parecendo-me demasiado conformado, e pouco confiante na força empreendedora dos figueirenses. Deveria ter apelado mais ao empreendedorismo (opino eu !).

A terminar discursou Duarte Silva (PSD), mostrando empatia com o público, proferindo longos agradecimentos, muito mel e boa vontade, voz e oratória afinada. Saber político em cinco minutos de "palavras encantadoras". Explicou a situação de forma simplista mas pouco rigorosa: “A Câmara faz o que pode", mas “a receita corrente baixou nestes últimos anos” e a crise impede o progresso da Figueira. A crise enquanto bode expiatório para as suas próprias insuficiências. As desculpas esfarrapadas de quem é responsável por grande parte da "crise" ao nível local: uma enorme dívida de curto-prazo, aumentou 15 vezes desde 2002, início do primeiro mandato de Duarte Silva, passando de 2,3 milhões para 35,6 milhões de euros no final de 2008. São dezenas de milhares de facturas por pagar às pequenas e médias empresas que operam na região. Pessoas que trabalham para a Câmara, mas não recebem ! Será isto moral, ético ? Não é. Mas Duarte Silva não se perde com questões menores como esta. Aparentemente dorme bem, apesar das dívidas colossais e asfixiantes.

Duarte Silva comprometeu ainda a capacidade de investimento da Figueira da Foz nos próximos 10 anos. Deixa às futuras gerações uma autarquia endividada e sem meios, quase tudo foi privatizado (águas, resíduos) ou vendido (terrenos e propriedade).
Pior ainda, a Câmara Municipal perdeu credibilidade.

Leio no jornal Público que Paulo Rangel (PSD), na Assembleia da República, criticou o estado do país: “endividado e legando às novas gerações um enorme problema”. Talvez o deputado Rangel pudesse falar com Duarte Silva sobre o assunto, e apelar a um maior sentido de estado e responsabilidade inter-geracional do autarca do PSD.

Comentários

  1. é óbvio que as receitas baixaram substancialmente porque por exemplo, o índice de construção não poderia continuar a crescer como até aqui.
    Não foi DS que comprometeu (embora responsável)a capacidade de investimento na F.F.:foi quem lhe antecedeu.Numa visão muito superficial: a câmara não consegue começar-se a equilibrar financeiramente sem de libertar totalmente da figueira grande turismo e do CAE. Depois, há que rever o mercado, o parque de campismo,o museu, a biblioteca,os apoios a colectividades, os recursos humanos,as empresas municipais...
    Há ainda que considerar entre outras, o "investimento" que Câmara fez com o antecessor, em "património" e na privatização das águas e resíduos, que a Figueira vai pagar galopantemente no futuro.
    JM

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