Muro de Berlim

Visitei Berlim Leste em 1991, no Verão, após uma longa viagem de comboio de Lisboa, naquele que foi o meu primeiro inter-rail. Tinha 500 DM (em notas) no bolso, e o meu amigo Nuno Manano, outros 500 DM. O dinheiro deveria chegar para um mês inteiro de viagem. Claro está que em 1991, 18 meses após a Queda do Muro de Berlim, não havia cartões de crédito nem telemóveis. A rede não estava lá, se perdessemos o dinheiro ou o bilhete de comboio, seriamos repatriados
Passámos uma semana em Berlim, explorando o que restava do Muro, descobrindo os bairros que até então estavam fechados aos Ocidentais. Simultaneamente esperámos por um visto da Embaixada da Polónia. Naquela altura ainda precisávamos de um visto.
Berlim Leste era escura, cinzenta, os edifícios em mau estado, as ruas tristes e sem vida. Cheirava a gasolina por queimar...dada a baixa eficiência dos Wartburg e Trabant. Parecia uma cidade abandonada. Tinha ido todos para Oeste. Os soldados russos tinham vendido os seus haveres (para-quedas, canivetes, mochilas, casacos, bandeiras, medalhas...etc) a comerciantes do Leste (arménios, georgianos,...) que os revendiam junto ao Muro.
A ida para Leste, a partir da velha estação de Lichtenberg, nos comboios do Leste (Reichbahn), foi uma aventura inesquecível. Em Varsóvia o capitalismo selvagem levou os comerciantes a vender ao longo das avenidas e ruas; a feira junto ao Palácio da Cultura com vietnamitas, ucranianos, romenos... Era um período de grandes mudanças, e para nós, jovens com 20 anos uma experiência de vida.
Na altura a questão do Muro era confusa. Não percebíamos que o dito servia para manter um regime brutal de ditadura comunista, e evitar que os seus próprios cidadãos saíssem para o Ocidente. Aliás, diga-se que as viagens dentro dos próprios países de Leste eram limitadas, não tinham a liberdade que hoje nós temos na União Europeia. Um alemão de leste não poderia ir a Varsóvia, e sem mais, ficar por lá a trabalhar. Os países comunistas eram irmãos, mas só na retórica oficial. Na prática o povo era mantido em compartimentos estanques, viajando somente em grupo para destinos pré-determinados.
Os regimes comunistas criaram problemas ambientais terríveis, com zonas altamente contaminadas, desperdícios elevados. Em termos económicos aproximavam-se da banca rota com um défice externo enorme, falta de investimento externo e um nível tecnológico muito baixo.

Nota 1- O Partido Comunista Português na altura (1989) opôs-se à queda do Muro. Hoje passados 20 anos, as mesmas pessoas, continuam indiferentes à história, acreditando que a RDA seria um regime modelo, o Muro necessário, Gorbatchov um traidor, a STASI e os seus 90.000 agentes um elemento essencial na defesa dos trabalhadores...Enfim, o PCP continua a defender um estado e uma ideologia por natureza anti-democráticos e opressores da vontade popular.

Nota 2 - Em Coimbra na eleição para a Assembleia Municipal, a independente Helena Freitas (PS), uma pessoa que já deu provas de isenção e saber, e propôs uma coligação de esquerda (PS+CDU+BE), contra o PDS-CDS/PP. O que fez a CDU (ou melhor o PCP) votou à direita, boicotando a entrada da esquerda na presidência da AM de Coimbra. Porquê?

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