Alterações Climáticas - Editorial do Figueirense

O penúltimo editorial do jornal O Figueirense da autoria do advogado Joaquim Gil, pronuncia-se de forma definitiva sobre o "embuste" das "marteladas" alterações climáticas. A principal inspiração e fonte de informação do director do jornal é o professor Adriano Moreira. No entanto, Adriano Moreira escreve o contrário, atente-se nas suas palavras publicadas no jornal Diário de Notícias a propósito de multilateralismo e a necessidade de actuarmos em conjunto perante os desafios que enfrentamos:

Isto acontece porque, como disse Ban Ki-moon, as alterações climáticas constituem "uma crise de saúde, uma crise energética, uma crise alimentar, e uma crise de segurança"; acrescenta que o Árctico pode perder todo o seu gelo até ao ano de 2030, e tudo o mais relacionado com o ambiente exige um "acordo mundial sobre o clima". O procurado multilateralismo tem aqui a dimensão da unanimidade do G192, que traduz a repartição do mundo em Estados membros.

Portanto, mesmo Adriano Moreira, recentemente eleito por unanimidade para presidente da Academia das Ciências está convencido que as alterações climáticas são um problema sério. Curiosamente, não está sozinho todas as Academias de Ciência do Mundo afirmam a mesma preocupação pela alteração súbita do clima.

Desde há 40 anos que se estuda intensivamente a influência da concentração de CO2 na atmosfera e o clima. Há mais de cem de anos atrás, o Nobel da Química (Arrehnius, 1903 )provou que a concentração de CO2 na atmosfera provoca um efeito de estufa. No início (década de 70) pensou-se que as alterações climáticas se resumiam ao aquecimento global. Hoje, sabe-se muito mais (dezenas de milhares de cientistas trabalham diariamente no assunto, de Londres a Xangai) e prevê-se (com 90% de probabilidades) que as calotes polares irão derreter mais rapidamente do que era suposto.

Perante tantas evidências haverá sempre uns quantos que não acreditam. Nada mais democrático, a extrema esquerda e a extrema direita juntas clamam pela "verdade" Justificam a sua posição com base nos "poderosos interesses instituídos", mas não os identificam. Será que a EDP está por detrás da cabala ? Ou a MARTIFER ? e a GALP ? Quem será ?
Pelo menos trata-se de uma cabala mundial em grande estilo.

Joaquim Gil refere que "há 10/15 anos o problema era o buraco do ozono que entretanto, ou “meteu baixa da caixa” ou “foi de férias". Mostra estar mal informado e desfasado no tempo. O "buraco da camada de ozono" era um tema muito mediático há quase 30 anos, estuda-se desde 1979. Continua a ser um problema problema sério , sendo alvo da atenção das associações ambientalistas (Greenpeace, FOE...etc.)mas também...da NASA que lhe dedica um site. Estima-se que só em 2070 se restabelecerá a camada de ozono tal como era antes dos CFCs (gases inertes fabricados pelo homem) entrarem na atmosfera. Os efeitos do "buraco na camada de ozono" são diversos (ler aqui), desde cataratas, cancro de pele e diminuição da vida aquática, especialmente nas zonas mais afectadas junto ao Pólo Sul.

Seria prudente da parte de um director de jornal informa-se sobre os assuntos alvo dos seus editoriais. Mal vai o jornalismo quando os responsáveis máximos se eximem a um exercício simples de procura de informação e teste às suas crenças e preconceitos.



Nota 1 - Impacto das Alterações Climáticas em Portugal

A amplitude térmica diária tem vindo a decrescer, acompanhadas por um aumento da frequência de secas severas (atravessando o país em 2005 o quarto período de seca desde 1991) e redução da duração da estação chuvosa, particularmente nas regiões do Sul do país, prevendo-se um aumento substancial do risco meteorológico de incêndio. Por exemplo, a precipitação média no mês de Março é actualmente cerca de 27% inferior à que ocorria no início do séc. XX, sendo a temperatura atmosférica anual 0.74ºC superior.

As previsões para Portugal apontam para uma subida do nível médio do mar entre 25 a 110 cm até 2100: se assim for, 67% do litoral estará em risco de erosão. Até ao final do século, poderá atingir valores na ordem do meio metro. Os impactos mais relevantes serão o risco de inundação, a deslocação de zonas húmidas e a aceleração da erosão da zona costeira. Zonas lagunares, como as de Aveiro a da Ria Formosa, ou ainda de Óbidos e Albufeira, e zonas estuarinas, como as do Tejo e Sado, tenderão a desaparecer ou a estreitar-se muito, com perdas de terrenos agrícolas bem como inundações de zonas baixas vizinhas. Um estudo da Universidade da Cantábria revela que o aumento do nível médio do mar poderá roubar até 15 metros de areia às praias portuguesas e espanholas: a ponta de Sagres e a faixa costeira entre Aveiro e Lisboa, que poderá ter os areais reduzidos entre 14 e 16 metros, serão as zonas mais afectadas; na costa alentejana os areais poderão perder 8 a 12 metros, tal como a faixa acima de Aveiro.

A precipitação anual projectada para o período de 2080-2100 decresce praticamente em todo o país, principalmente no Alentejo e durante a primavera. A precipitação acumulada em dias de precipitação intensa tenderá a aumentar e a acumular-se nos meses de Inverno. Este padrão de alteração poderá aumentar significativamente o risco de episódios de cheias e das disponibilidades hídricas.



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