Evolução, sensibilidade e árvores decepadas
A manifesta baixa sensibilidade dos portugueses em relação às árvores, e em geral a falta de apreço pelo que é natural (ler aqui, a história recente da lontra morta e enfiada no contentor) não pára de nos surpreender.
Mas, desta vez as tradicionais "podas" de árvores em Maiorca estão a dar brado (ler Diário de Coimbra de terça-feira aqui). Os vetustos plátanos do Largo de Maiorca todos os anos são massacrados pelos funcionários da Junta de Freguesia, cortam-lhe os ramos com a falsa crença que as árvores ficam mais saudáveis. Nada mais errado, como se pode ler aqui e abaixo.
Desta vez , note-se a evolução, os moradores queixaram-se do estado lastimável em que ficaram as árvores. Com razão, o ataque às árvores foi bem mais vigoroso, segundo se vê na fotografia devem ter sido usadas motoserras. Fica facilitado o trabalho...com certeza !
Técnica ? Para quê ? É a olho, vai-se cortando aqui e ali, como se fosse uma árvore de fruto.
Os plátanos são fortes e hão-de resistir, isto se subitamente não caírem após uma nortada mais vigorosa. Saibam os responsáveis políticos (e alguns técnicos) que as podas mal executadas enfraquecem as árvores, morrendo os ramos desaparecem as raízes, ou seja, ficam com menos suporte.
Não é só em Maiorca ! Na cidade e em muitas freguesias do concelho, as pessoas queixam-se que as árvores deitam muita folha, as árvores crescem, as árvores formam bosquetes onde se escondem os jovens a fumar, enfim isto e aquilo, e ...corta-se, muitas vezes sem se investigar a fundo se há razão para intervenções radicais. Ou, por vezes para fazer a vontade das pessoas cujos preconceitos sobre podas e árvores são difíceis de afastar.
Há árvores que devem ser abatidas, estão doentes , foram plantadas em locais impróprios, são um perigo para a segurança de bens e pessoas, então cortem-se, e plantem-se novas. Agora desfigurar e desvirtuar as árvores com podas radicais e ineficazes ? Não, obrigado.
5 ideias falsas sobre as "podas" radicais ou rolagens
A propósito das "podas" radicais ou "rolagens" praticadas em locais públicos e privados por pessoas sem a devida formação, aconselha-se novamente a leitura do texto de Dr. Francisco Coimbra (ex- Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura SPA, Consultor em Arboricultura Ornamental -ver: "árvores & pessoas - gestão da árvore no espaço urbano, Lda.") "Se as árvores falassem" que aqui se republica:
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«As árvores que dignificam as nossas praças e avenidas e embelezam os nossos jardins e parques são um elemento essencial de qualidade de vida, autênticos oásis no "deserto" que são tantos dos nossos espaços urbanos actuais. E, no entanto, é por demais evidente a ainda quase absoluta ausência de sensibilidade para o papel da Árvore em Meio Urbano. (...)
De facto, é inacreditável como certos preconceitos sobre a poda de árvores ornamentais estão arreigados nos responsáveis pela sua gestão e manutenção. É frequente ouvirmos dizer, como justificação, que as "podas" radicais, ou "rolagens", rejuvenescem e fortalecem as árvores, ou que são a única forma económica de controlar a sua altura e perigosidade... quando, na verdade, devia dizer-se de uma poda o mesmo que de um árbitro: - tanto melhor quanto menos se der por ela! (...)
1. A poda drástica rejuvenesce a árvore?- NÃO! São as folhas a "fábrica" que produz o alimento da árvore. Uma poda que remova mais do que um terço dos ramos da árvore – e as "podas" radicais removem a copa na totalidade! - interfere muito com a sua capacidade de se auto-alimentar, destruindo o equilíbrio copa/tronco/raízes. O facto de, após uma operação traumática, as árvores apresentarem uma rebentação intensa – como tentativa "desesperada" de repor a copa inicial – não significa rejuvenescimento, mas sim um "canto-de-cisne", à custa da lapidação das suas reservas energéticas. (...)
2. Fortalece-a? - NÃO! A poda radical é um acto traumatizante e debilitante, uma porta aberta às enfermidades. A copa das árvores funciona como um todo, sendo os ramos exteriores um escudo para os mais internos, evitando queimaduras solares. Se, subitamente, se alterar este equilíbrio, e todos os ramos ficarem expostos às condições climatéricas de forma igual, a árvore fica sem defesas. Para além disso, as pernadas duma árvore massacrada têm, pelo seu grande diâmetro, dificuldade em formar calo de "cicatrização". Os cortes nestas condições são muito vulneráveis a ataques de insectos e fungos que causam podridão. (...)!
3. Torna-a menos perigosa? -NÃO! Estas "podas" induzem a formação, nos bordos das zonas de corte, de rebentos de grande fragilidade mecânica, pois têm uma inserção anormal e superficial no tronco. Como se desenvolvem, ao longo dos anos, podridões junto às zonas de corte, esta ligação fica ainda mais fraca, tornando estes ramos instáveis e potencialmente perigosos a longo prazo.
4. É a única forma de a controlar em altura? - NÃO! A quebra da hierarquia – que estava estabelecida entre os ramos naturalmente formados – permite o desenvolvimento de novos ramos de forte crescimento vertical, mas agora de uma forma desorganizada e muito mais densa! Não se resolve, assim, o motivo porque geralmente se recorre a esta supressão da copa, pois em alguns anos a árvore retoma a altura que tinha, sem nunca mais voltar a ter a beleza e naturalidade características da espécie...
5. É mais barata? - NÃO, se a gestão do património arbóreo for pensada a médio e longo prazo! Aparentemente parece ser mais económico recorrer-se a uma rolagem única do que fazer pequenas intervenções anuais e utilizar os princípios correctos de poda e corte, investindo na formação do pessoal ou recorrendo a profissionais especializados nas situações mais complexas. No entanto, esta economia é de curto prazo, pois, se por um lado as árvores se desvalorizam a todos os níveis, por outro lado está-se a onerar o futuro, que terá que “remediar” uma decrepitude precoce ou resolver a instabilidade mecânica dos rebentos formados após os cortes. E a redução drástica da esperança de vida das árvores implementa custos acrescidos para sua remoção e substituição... »
* «A propósito das "podas" da Avenida Dr. Manuel Lousada... SE AS ÁRVORES FALASSEM!!!", Artigo publicado no Jornal da Mealhada de 27.03.2002 , por Francisco Coimbra (ex- Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura(SPA), Consultor em Arboricultura Ornamental -ver: "árvores & pessoas - gestão da árvore no espaço urbano, Lda.").
É uma vergonha o que fizeram em Maiorca. Tanto na feira velha como no parque do lago. Uns ignorantes e incompetentes arrogantes que provaram - em pouco tempo à frente da junta - que não servem nem para gerir a própria casa e o próprio jardim. Uma vergonha. Exige-se um pedido de desculpas à população.
ResponderEliminarRealmente o jovem que orientou os trabalhadores, percebe tanto de árvores, como eu de cultura do arroz.
ResponderEliminarJulgo que a Câmara Municipal deveria se manifiestar pelas duas siuações, cortes de eucaliptos por parte da Junta que são da Câmara e por este atentado ao património arbóreo da freguesia.
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarConcordo com os comentários anteriores.
ResponderEliminarA Câmara Municipal deveria organizar a gestão das árvores, tanto na cidade como nas freguesias rurais de forma a evitar actos indignos e que nos lesam a todos.
Sou habitante da freguesia de Maiorca e sinto-me totalmente ENVERGONHADA pela atitude tomada pelo "nosso" senhor presidente.
ResponderEliminarTodos os dias durante a minha deslocação para a escola passo pelos cepos do frondoso eucaliptal que existiu no Parque do Lago até há bem pouco tempo.
Ao contrário do que o ignorante Filipe Dias (presidente da junta) afirma, este espaço era bastante usado (e, curiosamente, em grande parte pelos seus conterrâneos santamarenses) para actividades de lazer, piqueniques e merendas aos fins de semana com bom tempo.
E se bem estão recordados, durante as grandiosas Festas da Freguesia de Maiorca, nas quais estava incluído o Desfile das Carroças (que para quem não sabe, serviram de base a uma lei dos carroceiros no Brasil e são já conhecidas além fronteiras) os animais participantes no desfile, incluindo os cavalos, descansavam na sombra proporcionada pelo eucaliptal.
Com a idade que estes eucaliptos tinham já eram considerados património!! E replantar novos eucaliptos no lugar daqeles? Por favor sr presidente!
Já para não falar na poda monstruosa feita nos plátanos na Feira Velha e das escolas! Realmente, só alguém que pretenda desafiar a população no "vamos ver quem manda agora aqui" é que poderia mandar cometer uma atrocidade destas!
E não lhe bastaram as críticas e recomendações feitas depois da asneira! Já depois deste escândalo as árvores do parque de merendas do Paço estão também a ser decepadas!
Veremos então como serão podadas as belas árvores da terra do sr presidente, Santo Amaro da Boiça.
Fica o apelo para que a população exija um pedido de desculpas público e formal em relação às atrocidades cometidas.
I.E.
Ouvi este diálogo entre amigos:
ResponderEliminar“- Pensando bem, foi muito insensato por parte da Junta a decisão do corte do eucaliptal do parque do lago. No fim de contas, tratava-se de um vivificante património natural que complementava o belo espaço de lazer que Maiorca tem e que em nome de coisa nenhuma deveria ter sido eliminado”
“- Também assim penso, mas não me surpreende. A avaliar pelas críticas que eles fizeram de inutilidade e despesismo - que parece não ter havido - aquando da construção do lago, esse acto de destruição, que se estendeu desnecessariamente aos pinheiros do flanco 0este do campo de futebol, terá sido pensado e faz parte de um plano para transformar o local numa outra coisa qualquer.”
“- Se assim é, a asneira é ainda maior e revela mau gosto, insensibilidade e falta de respeito por aquilo que outros fizeram de bem quando ocuparam o mesmo lugar na autarquia, que é transitório para todos.”
“- Respeito, sensibilidade… O presidente (só ele?!) não sabe o que isso é. Com o seu ar de candura de donzela imaculada, destrói em de vez plantar árvores sem ser necessário. Segundo o provérbio árabe, plantar uma árvore é condição para se ser verdadeiramente Homem, como escrever um livro e dar um filho à nação, o que ao que parece ele também ainda não conseguiu fazer.”
Como se vê, as pessoas estão desgostosas e apreensivas com o que de mau poderá mais acontecer no reinado do Filipe.
Prepotencia, ignorancia, insensibilidde, mau carácter e malvadez são palavras muito delicadas para qualificar o monstruoso acto de vandalismo premeditado e ostensivamente cobarde do corte das magnificas árvores que existiam no parque do lago. Será, senhora secretária da Junta, que se sente bem no meio dessa gente sem princípios nem vergonha?! Retire-se enquanto é tempo, se não fica contagiada e cai também na desconsideração das pessoas de bem e bem formadas da freguesia de Maiorca.
ResponderEliminarAfinal em que ficamos?!
ResponderEliminarGarantiram-me que os eucaliptos derrubados no parque do lago não foram todos para papel, alguns troncos foram transformados em tábuas… para construir o caixão político do executivo da Junta de Maiorca.
De facto a opinião pública já os condenou e começa a pedir a sua morte política. Há quem tenha já preparado o libelo acusatório: “arrogantes e incompetentes” e pensado esculpir das partes mais grossas da “poda” dos plátanos figuras alegóricas e dos raminhos mais finos sugestivas grinaldas fúnebres para colocar no esquife.
Até quando “estes cadáveres políticos adiados” continuam a desprestigiar a Freguesia servindo tão mal a sua instituição representativa?