O amiguismo

Marcelo Rebelo de Sousa, Ramalho Eanes, Marçal Grilo, Gonçalo Cadilhe... e algumas outras figuras nacionais, apoiaram ativamente o candidato do PSD na sua recandidatura à Câmara Municipal da Figueira da Foz, em 2009.

Apoiaram porque eram "amigos" do candidato, não pelos seus méritos políticos. A dívida da Câmara era conhecida, a Figueira tinha estagnado, os "escândalos" sucediam-se, a manifesta incapacidade para gerir a sua própria equipa era evidente, ...mas "os amigos são para as ocasiões", queriam eles lá saber da Figueira, dos figueirenses ou do país para alguma coisa ! O que interessava era que o "amigo" fosse eleito !

É consensual que o "amiguismo" é um dos males do país. Os portugueses parecem incapazes de distinguir a pessoa das ações, o bem comum de interesses mesquinhos e pessoais. O "salazarismo" vivia muito deste complexo de "amiguismo" generalizado.

"- É pá, és muito boa pessoa, um grande amigo, o padrinho do meu filho, mas eu não te posso apoiar publicamente nas próximas eleições...."

Custa-nos dizer a verdade aos "nossos amigos", mesmo que lhes estejamos a fazer um favor e a impedir que se humilhem.

Com o 25 de Abril muitos portugueses esperaram um "milagre". Portugal libertado do fascismo serôdio seria agora a "terra prometida" do internacional socialismo então vigente.
Claro que os defeitos ancestrais dos portugueses, entre eles o "amiguismo", mantiveram-se. Não há revolução que nos valha neste aspeto. E daí todos os atuais problemas de crise financeira e marasmo social e intelectual. Considero o marasmo mais grave que a falta de liquidez dos bancos, das empresas e do Estado.

Temo que o "bota abaixismo" (recebo centenas de email a dizer mal do fulano X, do responsável Y, ...mas sem uma ideia, um pensamento interessante ! ) e o pessimismo aliado à mediocridade de vários profissionais em posições chave nos conduzam a caminhos duros de convulsão social. Somos muito mais mimados (a geração dos 20, 30, 40 anos) , genericamente, e mais dependentes do exterior do que as gerações anteriores. Os nossos pais e avós fizeram sacrifícios inimagináveis para nós. Hoje a maioria trabalha confortavelmente sentado à secretária com um PC ou defronte de um painel de instrumentação a controlar robots.

Grande parte do capital investido nos últimos 20 anos (obras de engenharia civil pesada i.e. autoestradas, variantes, habitação, bens de consumo, molhes, estádios de futebol,...) não são per se um investimento gerador de riqueza. Pelo contrário, o excesso de habitação e custos de manutenção associados vão ser uma pesada fatura para quem vem a seguir. Os centros de aldeias, vilas e cidades esboroam-se dia após dia.

O "amiguismo" , os investimentos em função das empresas amigas, são um mal moderno que poucos ousaram seriamente combater. Mesmo aqui na paróquia vivemos cativos dos apoios dos "amigos" durante demasiado tempo.
Essa fatura está a chegar !

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