Agricultores politicamente correctos



Os agricultores do Baixo Mondego desesperam com os baixos preços dos seus produtos. Têm razão. Um litro de leite custa menos que um litro de água engarrafada, uma chávena de café custa o equivalente a 3 quilos de batatas, um quilo de arroz é pago a 30 cêntimos....
Ao contrário do que se afirma frequentemente, os produtos alimentares base são muito baratos. A nossa gula, e dependência cerealífera, é que nos faz gastar muitos euros com alimentos transformados e incorporando muita água e energia. Criou-se o mito que sem carne ou peixe diariamente não somos saudáveis. Uma mentira descarada que os vários estudos científicos têm vindo a desmascarar.
Os consumidores finais são enganados pelos supermercados que "vendem" a imagem do bom e barato. Tal não é possível. O bom leite não pode custar 50 cêntimos por litro, um quilo de carne de porco não pode custar 3 euros se a o porco for criado em boas condições de sanidade, e não submetido a uma alimentações forçada de rações e mais rações, hormonas, fármacos....etc.
Os agricultores deveriam exigir do Governo mais informação e educação para uma alimentação saudável. As cantinas escolares deveriam dar o exemplo através de medidas simples de aquisição de produtos seleccionados:
- compra de produtos locais, (menos transporte, menos custos, menos poluição) se possível directamente aos agricultores e respectivas associações
- compra de produtos de qualidade e orgânicos (menos pesticidas,mais saúde e sustentabilidade)
- levar os jovens a compreender porque é que uma vaca saudável deverá ser criada ao ar livre, comendo erva fresca; e que o leite deste animal é muito melhor que o líquido branco que nos vendem nos supermercados (e que muitas vezes vem de Espanha, França, Itália....)

Mas, infelizmente os agricultores, apesar de fortemente subsidiados, não conseguem sair do ciclo vicioso da industrialização da agricultura em massa, com recurso a doses elevadas de pesticidas.
O Ministro da Agricultura Jaime Silva também não parece apostado em fazer compreender aos cidadãos que não podemos continuar a depreciar os produtos alimentares. Há que educar e informar para uma cultura de maior exigência, fugindo ao actual consumo indiscriminado, e em massa, de produtos sem a menor qualidade nutricional e com fortes impactes ambientais e económicos.

Comentários

  1. Caro,
    O problema é que os agricultores portugueses só são organizados para fazer manifestações.

    Agora estudar, inovar e sobretudo trabalhar em conjunto não conseguem. Nem nunca vão conseguir.
    Cooperativas são para falir, cooperativas de 2º geração nem sabem o que isso é; redes de distribuição zero.

    Produzir leite e carne no nosso país e concorrer com a Holanda? Só pode ser brincadeira. Cereais a concorrer com a Polónia? Onde conseguem 2 colheitas por ano sem regas? Só vindo de gente que vive no sec XIX.

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  2. Meu Caro João,

    Tens muita razão.
    Eu próprio já escrevi vários apontamentos no meu caderno diário acerca da inépcia que tem caracterizado o mi(n)stério da agricultura em Portugal. Não só agora mas desde sempre.

    Que me lembre, e já não sou novo, como sabes, nunca apareceu lá pelos nossos sítios alguém do mi(n)stério da agricultura a informar os agricultores (quando os havia) acerca das melhores práticas. Os agrónomos e sivilcultores em Portugal formam-se e instalam-se no Terreiro do Paço e arredores. Não aparecem no campo. Nunca apareceram.

    Se reparares bem há engenheiros de todas as especialidades nos locais onde se desenvolvem as actividades com que se relacionam as suas formações mas não na agricultura, salvo, suponho, nas nas poucas empreasas agrícolas de grande dimensão.

    Eu tenho uma dezenas de árvores plantadas e gostava de evitar os pesticidas. Mas não sei como.

    Sabes se alguém sabe e esteja disponível para me ensinar?

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