Geneticamente Modificados

Aqui vai uma opinião alternativa às dominantes na Blogosfera e nos Diários Nacionais.
J.Vaz

Transcrita do http://polegarverde.blogspot.com/

Terça-feira, Agosto 21, 2007
Já não se podem deixar os miúdos sozinhos...

(imagem descaradamente palmada ao abrupto.blogspot.com)

No minuto em que cheguei a casa, ainda de havaianas e cheia de sal no
cabelo, recebi um telefonema da minha mãe a dizer "Liga rapidamente a
TV, na SIC". Estava a dar a 1ª reportagem sobre o movimento de
cidadãos que destruiu cerca de um hectare de uma plantação de (50
hectares de) milho OGM no Algarve.

O meu primeiro pensamento foi "lá vai o meu trabalho andar para trás".
Como bióloga que trabalha no sentido de integrar a espécie humana na
natureza sem que existam desequilíbrios prejudiciais às 2 partes,
geralmente as manifestações dos "ambientalistas" só vêm
descredibilizar a imagem do meu trabalho. Quem é que liga aos
maluquinhos que andam a salvar baleias?

Na verdade, no dia seguinte já tinha mudado de opinião. Passo a
explicar porquê:

- Sou totalmente contra a violência, mas não acho que o grupo de
cidadãos tenha usado violência nenhuma. Destruíram para aí 1% do
milho, levaram sacas de milho biológico para oferecer ao produtor e
ofereceram-se como mão de obra para o cultivar. Se quisessem mesmo
destruir a plantação tinham-lhe pegado fogo como fazem
sistematicamente os activistas da Greenpeace em França. A acção foi
pacífica e simbólica, e usaram máscaras porque em 2003 houve um caso
grave de intoxicação de populações nas Filipinas que viviam perto de
plantações deste milho, sendo detectados anticorpos no seu sangue,
conforme comunicação do Dr. Traavik (Norwegian Institute of Gene
Ecology) numa conferência dada em Kuala Lumpur a 22 de Fevereiro de
2004.

- Não percebo onde é que foram buscar a ideia de que a manifestação
era composta por um bando de miúdos que nunca trabalharam. Eu pela TV
não percebi se eram miúdos; se nunca trabalharam então pelo menos os
estrangeiros não arranjavam dinheiro para cá chegar de avião, e se são
assim tão amigos de charros e da preguiça não se explica que tenham
posto de pé um evento para 500 pessoas num campo alentejano, com
alimentação garantida, fornos solares, casas de banho secas, duches
quentes, construções de taipa e uma data de workshops, como estava no
programa. A mim soa-me a pessoas bem mais desenrascadas que o cidadão
comum, que acha que o frango nasce no supermercado.

- Sinceramente, estou farta do monopólio de informação sobre os
transgénicos e de nos quererem inpingi-los à força. Quase todos os
comentários que li no Público, no DN e as demagogias no Abrupto e no
Ambio são nem mais nem menos do que rezinguices de macho omega. Porque
morder ao macho alfa está fora de questão. Para estes senhores é mais
fácil cair em cima de um bando de pessoas ("miúdos") que teve coragem
de trazer as suas convicções para a rua do que virar-se para quem
devia apresentar explicações. Esquecem-se de quando eles eram miúdos
que trouxeram as convicções para a rua e fizeram o 25 de Abril, agora
que estão confortavelmente empoleirados? Talvez. Mas passo a
esclarecer a minha alergia aos transgénicos:

- Os OGM não foram aprovados por nenhum sistema de votação democrática
em que eu me lembre de participar, apesar de ter respondido a todas as
(muito pouco divulgadas) consultas públicas que decorreram antes da
aprovação destes. Alguém se lembra delas? Dificilmente, são realizadas
porque a lei europeia o exige mas são escondidas nos sites da UE que
nem barras de ouro.

- A Agencia Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) não realiza os
seus próprios estudos antes de aprovar uma planta para circulação na
UE, aceita como credíveis os estudos apresentados pelas próprias
empresas que querem comercializar essa planta (estamos a ficar tão
espertos como os americanos). Isto passou-se com o milho transgénico
em causa;

- O Dr. Séralini, da Universidade de Caen (França) pegou nos dados
fornecidos pelos estudos da Monsanto e tratou-os com um tipo de
formula estatística diferente, vindo a revelar que os ratos
alimentados com milho transgénico (desse que anda por aí a circular)
sofrem perturbações a nivel de fígado e rins.

- Releiam o ponto anterior. As experiências foram feitas em RATOS.
Nunca houve uma experiência feita com um grupo de humanos que se
dispusessem a comer transgénicos para se verem as consequências. Os
primeiros cobaias somos NÓS.

- O principal argumento da UE para levantar a moratória ao cultivo e
consumo de OGM é o facto de "estarem a perder a corrida económica com
os EUA e a China". Se te mandares ao poço eu vou atrás...

- O aparecimento de ervas daninhas super resistentes, insectos que
querem lá saber de folhas geneticamente modificadas e espécies
agressivas afins que evoluíram por causa da pressão evolutiva causada
pela presença dos OGM é incontável. Leiam http://www.stopogm.net

- O Ministério da Agricultura teve este ano uma atitude vergonhosa de
desrespeito para com a população portuguesa, divulgando a localização
dos campos de milho GM apenas no fim de Julho quando o milho já ia
alto, ao contrário do que está estabelecido na lei europeia transposta
para a portuguesa. Além disso divulgou a coisa do género "propriedade
sem nome, no concelho X, 30 hectares", o que é igual ao litro. Se
temos um campo de OGM ao pé de casa, ficámos a saber agora. Além disso
era também obrigado a comunicar esta informação ao Ministério do
Ambiente, e não o fez. Vide site do MADRP.

Posto isto, face à indiferença dos cientistas portugueses e europeus
no geral em relação a um problema de saúde pública que está a ser
causado apenas porque empresas multinacionais querem fazer fortunas à
custa de sementes patenteadas (o que é uma estupidez porque elas não
desenharam os transgenes incluídos nas plantas GM, apenas os foram
buscar a outros organismosI), percebo que haja gente que está farta. O
Ministro da Agricultura dizia ontem na TV: se isto faz mal, provem-no
cientificamente. Mas onde? E oportunidade para isso? E gente para o
ouvir? Quem o queira saber, quem não esteja resignado a comer frangos
com nitrofuranos e milho com toxinas de bactérias, onde estão as
pessoas que acham que o seu voto ou o seu protesto ainda vai fazer
alguma diferença?

100 delas estavam em Silves na 6ª feira.

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